Antes da Covid-19, a construção  civil estava saindo de um pico cíclico, mas ainda no modo expansionista, com as maiores empresas apresentando uma perspectiva financeira sólida. Porém, como um setor dependente de atividade física, a construção sofreu uma interrupção de negócios significativa com a pandemia, apesar de ser classificada como atividade essencial em muitos países. Prevemos que a Covid-19 reforçará a dinâmica já oposta entre grandes e pequenas empresas do setor.

As PMEs são estruturalmente menos lucrativas do que suas colegas maiores, como evidenciado pelas margens de Ebitda que variam entre 1% a 4%, dependendo do tamanho da empresa, em comparação com 10-14% para as grandes empresas. As razões para a diferença na rentabilidade são abundantes, mas o mais importante é que podemos atribuí-lo à falta de poder de negociação, ao tamanho e à escala dos projetos. As PMEs geralmente operam como subcontratadas de empresas maiores; portanto, a maior parte dos lucros é capturada por essas últimas. om preços mais baixos das matérias-primas.

Em nosso cenário central, esperamos que os dois meses de lockdown sejam seguidos de uma recuperação em forma de U, com um retorno a 85% dos níveis normais de atividade a partir de então. Como resultado, é provável que as receitas de construção diminuam 25% na Europa em 2020. Dado que as maiores empresas provavelmente sofrerão uma queda de receita da ordem de 5 a 10% (fonte: anúncios de empresas, consenso do Factset), devemos concluir que o impacto para as PMEs será substancialmente pior.

Figura 1: Parcela de PMEs no setor de construção europeu (número de empresas)

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Fontes: Eurostat, Allianz Trade, Allianz Research

As insolvências crescerão 15-24% na Europa. O setor de construção é um dos mais expostos quando se trata de insolvências. Ele representou, em média, 20% das insolvências nos principais países europeus, seguida pelos varejo e acomodação, que são setores igualmente fragmentados.

Emergir da crise também será mais complicado para as empresas menores do que para as maiores, considerando a questão específica e predominante da mão de obra. A intensidade do trabalho medida como funcionários/receita é significativamente maior para as PMEs: a empresa média de mais de 250 funcionários gera receita quase 60% maior por funcionário do que a empresa pequena de 0 a 50 funcionários. Consequentemente, novos custos adicionais relacionados ao trabalho e decorrentes da crise da Covid-19 são particularmente onerosos. O custo incremental do equipamento de proteção individual (EPI) por si só pode atingir quase 50% do Ebitda para as menores empresas em média (fonte: Eurostat, Allianz Trade).

As empresas maiores adotaram uma série de estratégias de enfrentamento que as ajudam a absorver o impacto. Em primeiro lugar, elas compreendem ações para preservar a liquidez na forma de emissão de títulos de dívida em larga escala e redução de dividendos. Os esquemas de licença e as garantias de empréstimos governamentais são, no entanto, igualmente acessíveis e estão sendo usados por todas as empresas. Em média, o setor de construção ofereceu licenças a 75 a 80% da força de trabalho no Reino Unido, enquanto 37% das empresas fizeram uso do esquema na Alemanha e 95% na França.

Observe, no entanto, que o acesso a esquemas de empréstimos significará maior pressão sobre os fluxos de caixa como resultado de níveis mais altos de dívida no futuro. Reduções de custos e do capex são possíveis caminhos, mas novamente têm uma alavancagem muito maior nas grandes empresas. Por fim, em vista da utilização geralmente menor da capacidade, é provável que as grandes empresas busquem com mais agressividades projetos menores que, normalmente, seriam deixados para empresas menores.