Os EUA e a China assinaram oficialmente um acordo comercial de “Fase 1” no dia 15 de janeiro. Os EUA cortarão pela metade sua tarifa de 15% sobre cerca de 120 bilhões de dólares em produtos chineses e suspenderão os encargos planejados que entrariam em vigor em dezembro passado. A China deve aumentar suas importações dos EUA em 200 bilhões de dólares ao longo dos próximos dois anos e também concordou com uma proteção maior de propriedade intelectual (PI).

Há três elementos cruciais nesse acordo: (i) Ele traz um alívio de curto prazo, uma vez que dissipa parcialmente a incerteza e a tarifa média dos EUA cai em 1pp para 7%; (ii) o mecanismo de enforcement acordado abre espaço para volatilidade política e não sugere nenhuma redução de tarifas adicional este ano. Embora não pareça que o conflito vá escalar no futuro, ainda esperamos algumas flutuações na tarifa dos EUA este ano; (iii) não esperamos um acordo de fase 2 ainda em 2020, uma vez que os problemas que restam são mais controversos.

No geral, isso reforça nosso cenário intermediário de uma "Disputa Comercial" continuada até as eleições presidenciais de 2020 nos EUA. Isso pressupõe:

  • Nenhuma escalada significativa nas tensões entre EUA e China antes das eleições de 2020 por dois motivos: (i) o próximo tranche de tarifas dos EUA sobre a China cobriria mais bens de consumo do que os tranches anteriores, prejudicando o consumidor americano em pleno ano eleitoral; (ii) 86% das mercadorias na última categoria tarifária são importadas da China, o que reduz a possibilidade de substituição para empresas dos EUA.
  • Tarifas dos EUA ainda elevadas, pairando a cerca de 7% em comparação com 3,5% antes do governo Trump, e crescimento comercial reduzido (+1,8% em 2020 após +1,2% em 2019) devido à incerteza e às tarifas.

Ademais, embora não vejamos uma escalada significativa, a volatilidade na política comercial dos EUA pode afetar a Europa: O imposto digital, o setor automobilístico europeu, possíveis retaliações contra subsídios da Boeign e a política climática podem ser fatores de estresse, ativando uma retaliação (limitada) dos EUA.

Foco nas compras:

Agro

A China pode intensificar as importações agrícolas, o que seria prioritário, uma vez que várias barreiras comerciais foram abandonadas. Nem tudo serão rosas para os importadores ou agricultores dos EUA: os preços da soja, por exemplo, caíram em comparação com 2017, e atingir a meta de importações, adicionais de 32 bilhões de dólares, exigirá um esforço ainda maior em termos de volume, em um contexto de gripe suína (e portanto, com demanda parcialmente reduzida por soja). Por isso, esse esforço da China pode prejudicar o Brasil, a UE e a Austrália (ver figura 1), os outros principais exportadores de agroalimentos para a China.

Figura 1: Importações chinesas em agroalimentos e projeções no âmbito do acordo de Fase 1 (Bilhões de USD)