Mercados Emergentes: Fluxos de saída de capital chegaram ao pior nível

05 de maio de 2020

 

Os fluxos de saída de capital dos Mercados Emergentes (MEs) chegaram ao pior nível em março, mas podem aumentar novamente caso as tensões comerciais renovadas persistam. Fluxos de saída de investimentos totais dos MEs moderaram a uma estimativa de -18 bilhões de dólares em abril após a saída recorde de -88 bilhões de dólares em março. Isso reflete uma recuperação na China (cerca de +8 bilhões de dólares de influxo em abril após saídas da mesma magnitude em março) e uma desaceleração significativa em outros países asiáticos, além de fluxos de saída menores da Europa Emergente, Oriente Médio e África (ver Figura 1). Por outro lado, os fluxos de saída de investimentos da América Latina continuaram substanciais a -13 bilhões de dólares em abril (-16 bilhões de dólares em março), em grande medida devido aos fluxos de saída bastante elevados do México e da Colômbia, que foram fortemente afetados pela derrocada adicional dos preços globais de petróleo no mês passado.

Em geral, os mercados financeiros começaram a diferenciar entre MEs mais resilientes e os mais vulneráveis após retirar capital de maneira generalizada em março, quando o tamanho potencial do choque da Covid-19 ainda não era muito definido. O desempenho das moedas dos MEs sustenta essa perspectiva. Após intensas depreciações em março, a maioria das moedas se estabilizou, ou até se recuperou, em relação ao USD em abril, mas algumas continuaram a se enfraquecer, especialmente as moedas do Brasil (-7%), do México (-4%), da África do Sul (-6%) e da Turquia (-6%). No futuro, as tensões comerciais renovadas entre os EUA e a China, que contribuíram para um começo mais fraco da semana nos mercados de ações, podem levar a mais fluxos de saída de capital, como ocorreu em agosto de 2019 (-19 bilhões de dólares), por exemplo. No geral, entretanto, não antecipamos um mês com fluxos de saída semelhantes aos observados em março no próximo ano.

Figura 1 – Fluxos de investimentos totais por região, bilhões de dólares (USD)

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Fontes: IIF, estatísticas nacionais, estimativas da Allianz Research

Mercados Emergentes mais fracos podem priorizar a economia, arriscando uma alta contagem de mortes devido à Covid-19. O custo econômico de um lockdown completo seria alto demais em muitos MEs. Primeiramente, há aqueles com fraquezas estruturais substanciais, como uma dependência elevada de exportações de bens e serviços – e, nesse caso em especial, de exportações de commodities e serviços de turismo –, uma parcela elevada de empregos informais e/ou proteção fraca de empregos. Em segundo lugar, há os MEs que entraram na crise sanitária com desequilíbrios macroeconômicos notáveis, com grandes déficits fiscais e/ou nas contas correntes, elevada dependência de financiamento externo, baixas reservas cambiais e/ou moedas supervalorizadas. Os MEs que se encaixam nessas categorias podem optar pela diminuição do confinamento cedo demais, ou até por abrir mão completamente do confinamento para mitigar a desaceleração econômica. O objetivo ou a necessidade de limitar os estímulos fiscais também pode ter um papel nisso.

A Figura 2 indica que a África do Sul, a Índia, o Brasil, a Indonésia e a Turquia são MEs grandes com muita vulnerabilidade econômica frente ao confinamento. Assim, não é surpresa que tanto o Brasil quanto a Turquia, por exemplo, (ainda) não impuseram fechamentos estritos, ainda que seus indicadores de saúde também sejam fracos. No entanto, essa estratégia gera o risco de uma crise sanitária muito mais grave e prolongada no futuro, o que também pode prejudicar fortemente a economia. Por exemplo, as autoridades turcas têm enfatizado que desejam resgatar a temporada de turismo de 2020, mas isso será muito improvável se a contagem de mortos devido à Covid-19 continuar subindo. No geral, a análise acima é consistente com a nossa conclusão anterior de que os seguintes MEs grandes – Argentina, Turquia, África do Sul, México, Chile, Paquistão, Indonésia, Malásia e Romênia – correm mais riscos de sofrer reduções de classificação e de subsequentes inadimplências soberanas e corporativas.

Figura 2 – Vulnerabilidade econômica ao confinamento e preparo sanitário para a diminuição do confinamento em economias seletas

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Fontes: Diversas, Allianz Research

Continuamos a projetar uma contração de -0,7% no PIB real dos Mercados Emergentes como um todo em 2020.

Embora os fluxos de saída de capital dos MEs tenham chegado ao pior nível em março, as economias reais continuarão a derrapar por enquanto. O Manufacturing PMIs dos MEs liberados esta semana confirmam uma desaceleração acentuada da atividade econômica em abril e uma perspectiva pessimista para os próximos meses. Nosso Manufacturing PMI Composto em MEs piorou para 42,3 pontos em abril (em relação a 49,6 em março). Excluindo a China, que já está se recuperando (PMI em 50,8 em abril), o índice composto caiu para 34,0 (ante 47,2). Isso sustenta nossa projeção de base de uma contração econômica acentuada nos MEs como um todo no segundo trimestre, seguida de uma recuperação gradual começando no segundo semestre de 2020. Projetamos que o PIB real dos MEs irá contrair em -0,7% em 2020, seguido de uma forte recuperação para +6,4% em 2021 (para mais detalhes sobre projeções das regiões principais e MEs chave, consulte a Figura 3).

Figura 3 – Projeções de crescimento do PIB real em Mercados Emergentes

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Fontes: Estatísticas nacionais, projeções da Allianz Research