Mais países tem anunciado datas de encerramento do isolamento, para, gradualmente, reiniciar a atividade econômica. No entanto, é preciso ter em mente que nem todos os países estão no mesmo barco; cada um enfrenta riscos e desafios diferentes por conta das suas respectivas realidades.

A partir das condições iniciais, os dados epidemiológicos mostram que poucos países estão em condições de começar a reduzir o confinamento, ou seja, apresentar um número básico estimado de reprodução R0<1. No entanto, muitos gostariam de começar a relaxar as restrições o mais cedo possível para apoiar suas economias.

Nossa análise revela quatro grupos de países (veja a figura 1). A estrutura é dinâmica, de modo que os grupos podem evoluir ao longo do tempo à medida que a luta contra o vírus progredir e à medida que os países aumentarem seus testes ou capacidades médicas.

Figura 1: Países distribuídos de acordo com suas condições iniciais

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Fonte: Várias, Allianz Trade, Allianz Research

O primeiro grupo, formado principalmente pelos chamados Mercados Emergentes, ainda não está preparado para o fim do confinamento, à medida que a disseminação do vírus se acelera e os centros de saúde se esforçam para acompanhar. No entanto, esses países são altamente vulneráveis ao confinamento, que pode ser mais difícil de implementar em áreas de alta densidade populacional (Brasil, Índia...). A informalidade também dificulta a generalização das redes de seguridade social conforme a atividade (México), e a pressão política para reaquecer a economia aumenta. Não apenas o impacto do confinamento em geral será devastador, mas seus efeitos podem até prejudicar a economia no médio prazo. E o risco de erros de política – reiniciando a economia cedo demais e arriscar um surto secundário – fica à espreita. Um “desconfinamento” muito gradual parece ser a solução ideal, mesmo que isso signifique uma recuperação lenta em forma de U.

Um segundo grupo, compreende países que ainda estão enfrentando a epidemia e onde os testes ainda não atingiram o padrão de melhor desempenho. Nesse grupo, também encontramos países com áreas urbanas altamente densas (EUA, Japão, Reino Unido, França), onde é difícil impor o confinamento em termos de logística. Além disso, alguns são altamente vulneráveis em termos econômicos devido a um mercado de trabalho flexível (EUA) e uma economia já deprimida (Japão) ou margem de manobra de política fiscal limitada (Espanha). Por fim, muitos países são vulneráveis a bloqueios prolongados porque têm uma alta concentração em setores onde a atividade foi interrompida. O ideal seria que o "desconfinamento" fosse ainda mais gradual e lento para evitar surtos secundários, ainda mais porque alguns desses países (principalmente na UE) precisam lidar com a regulamentação antes de poder implementar aplicativos de rastreamento de contato. Esses países podem optar por intervalos dentro e fora do confinamento para garantir que a capacidade das UTIs seja suficiente para tratar os pacientes, que os testes aumentem e que o auto-isolamento seja rigorosamente aplicado. O risco de encerrar o confinamento cedo demais por causa da urgência econômica (por exemplo, na Espanha, que começou a suspender paralizações da construção e a atividade industrial) permanece.

 Um terceiro grupo compreende países fronteiriços, onde houve progressos para impedir a disseminação do vírus (Itália) ou a capacidade médica e de teste superou a de seus pares (Alemanha, Singapura). No entanto, muitos desses países são relativamente mais vulneráveis economicamente ao confinamento do que os antecipados. É provável que aqui, em um esforço para reduzir o impacto econômico negativo (por meio do comércio, do turismo e das cadeias de suprimentos industriais), o "desconfinamento" chegue mais cedo ou seja menos progressivo; veríamos maiores riscos de uma nova onda de infecções (Singapura); isso só poderia ser compensado por uma maior capacidade de teste ou de rastreamento de contato.

O último grupo, dos países antecipados, está perto de derrotar o vírus, aumentando a capacidade de testes e a capacidade médica. Eles também mostram uma vulnerabilidade menor do que outros, devido à tomada de decisões verticalizada (China), estabilizadores de atividade e redes de segurança eficientes (Dinamarca) ou confinamento limitado (Coreia do Sul). É provável que suas estratégias de “desconfinamento” sejam prudentes e graduais, como visto nos anúncios mais recentes, nos quais alguns subsetores de serviços permanecem fechados até junho. A experiência da China mostra que as medidas de confinamento estão sendo relaxadas com prudência ou, às vezes, até são reforçadas nas cidades onde existe o risco de uma segunda onda de infecções, devido a casos importados ou assintomáticos.