A China vêm aumentando sua participação no mercado de exportação desde que superou a crise da Covid-19. Entre os 20 maiores exportadores do mundo, sua fatia de mercado total agora é de c.25%, em comparação com uma média de c.20% em 2017-19 (ver Figura 1). As exportações chinesas tiveram um desempenho surpreendente neste ano, fazendo com que a balança comercial contribuísse de forma positiva para o crescimento do PIB (o que também foi auxiliado pela baixa nas importações). No terceiro trimestre de 2020, o PIB cresceu +4,9% a/a, com as exportações líquidas contribuindo com +0,6 pp (em comparação com +0,3 pp em média em 2017-19).

Figura 1: Participação no mercado geral de exportações da China (%, entre os 20 principais exportadores)

Fontes: Centro de Comércio Internacional, Allianz Trade, Allianz Research

Parte desse ganho foi impulsionado pela pandemia, que aumentou a demanda global por produtos de saúde e eletrônicos. Ao ver os detalhes dos dados comerciais por setor, descobrimos que as exportações chinesas de produtos farmacêuticos (paracetamol, máscaras), preparações de higiene (álcool-gel, sabão), fios especiais (matérias-primas para máscaras e macacões), equipamentos para a cabeça (EPI de cabeça) e instrumentos médicos (ventiladores, termômetros) – que agrupamos sob o rótulo de produtos relacionados à pandemia da Covid-19 na Figura 2 – aumentaram rapidamente.

Figura 2: Crescimento das exportações da China %a/a e contribuições (pp)

Fontes: Centro de Comércio Internacional, Allianz Trade, Allianz Research

A contribuição para o crescimento geral das exportações foi de +1,0 pp desde junho de 2020, em comparação com apenas +0,2 pp em média entre 2017-19. A participação de mercado para essas mercadorias aumentou para 11,5% em média este ano, em comparação com 8,8% em média entre 2017-19 (ver Figura 3). Da mesma forma, a demanda global por algumas máquinas e produtos eletrônicos (por exemplo, computadores, monitores, telefones celulares, fones de ouvido, circuitos integrados, etc.) também cresceu no contexto da crise e da transição para o trabalho remoto. A participação da China no mercado de exportação de máquinas e eletrônicos é de 33,0% em média este ano, em comparação com 27,1% em média em 2017-19 (ver Figura 4). O desempenho das exportações também ganhou força com o aumento da demanda por produtos relacionados à construção e decoração de interiores. A sólida procura por essas mercadorias é provavelmente sustentada por um forte afrouxamento monetário e fiscal em todo o mundo.

Figura 3: Participação no mercado de exportação da China para produtos relacionados à pandemia de Covid-19 (%, entre os 20 principais exportadores)

Fontes: Centro de Comércio Internacional, Allianz Trade, Allianz Research
Figura 4: Participação no mercado de exportação da China para máquinas e produtos elétricos (%, entre os 20 maiores exportadores)
Fontes: Centro de Comércio Internacional, Allianz Trade, Allianz Research

A demanda externa por outras mercadorias, por exemplo, relacionadas a couro, vestuário, transporte ou alguns metais e óleos minerais, ainda está em queda. Esses bens contribuíram negativamente para o crescimento geral das exportações, em média em -5,6 pp desde junho de 2020, em comparação com +1,5 pp em média em 2017-19 (ver Figura 2).

Em termos de destino, a penetração das exportações chinesas aumentou em quase todos os seus principais parceiros comerciais (especialmente na Europa e na Ásia) – com os EUA sendo uma exceção. A participação das importações dos EUA provenientes da China diminuiu para 17,8% em média este ano, em comparação com 20,6% em média em 2017-19. Por outro lado, as exportações chinesas para a Europa e a Ásia aumentaram substancialmente. Nos 5 principais países da Zona do Euro atingiu 11,5% em média este ano, em comparação com 9,0% em média em 2017-19. E na Coreia do Sul e no Japão, respectivamente, de 20,6% para 22,6% e de 23,7% para 24,8%. Outras economias com boa gestão e controle da Covid-19 também apresentaram bons resultados no mercado de exportação (Vietnã, Taiwan, Coreia do Sul).

Esperamos que as exportações chinesas continuem resilientes nos próximos trimestres, no contexto de novas ondas de infecções por Covid-19 e em um ambiente de baixas taxas de juros. A demanda por produtos relacionados à pandemia de Covid-19 deve subsistir a curto prazo (ou enquanto o vírus ainda estiver circulando). Embora as exportações desses bens devam cair eventualmente, os setores afetados pela epidemia (outras mercadorias nas nossas categorias) estão lentamente chegando ao fundo do poço. A forte demanda por produtos relacionados à construção e decoração de interiores, continuará fortalecendo a balança comercial chinesa. Os projetos de construção e infraestrutura de moradias serão impulsionados pelo ambiente de taxas de juros baixas e políticas monetárias flexíveis, enquanto os efeitos positivos dos pacotes de estímulo fiscal se materializarão ainda mais em 2021. Essa perspectiva bastante otimista para as exportações chinesas significa que o saldo em conta corrente do país deve permanecer em território positivo no próximo ano – prevemos +1,3% do PIB em 2020 (após +1,0% em 2019) seguido por +0,7% em 2021.