O investimento corporativo em economias desenvolvidas sofreu um grande golpe com a desaceleração econômica causada pela Covid-19. Apesar do enorme apoio financeiro dos governos, as restrições sanitárias e a incerteza econômica afetaram o investimento corporativo drasticamente na Itália (-11,7%), Reino Unido (-13,3%) e França (-8,7%) em 2020. O declínio foi relativamente moderado na Alemanha (-5,7%) e EUA (-4,4%), certamente como resultado das restrições menos rigorosas (Figura 1).

Figura 1: Índice de investimento total das empresas não financeiras (ENFs) (2008Q1 = 100)

Fontes: Eurostat, BEA, Allianz Trade, Allianz Research

No curto prazo, a normalização do excesso de capacidade irá catalisar a recuperação do investimento - graças ao sucesso das campanhas de vacinação. Nossa análise econométrica mostra que a demanda agregada e as condições favoráveis ​​da oferta de empréstimos impulsionarão a recuperação do investimento nos EUA, Alemanha, França, Itália e Reino Unido. As condições da demanda, refletidas na utilização da capacidade, são importantes para as decisões de investimento ao longo do ciclo de negócios. Quando os países começarem a suspender as restrições sanitárias a partir do verão de 2021 [no hemisfério norte] e a confiança finalmente retornar, esperamos uma fase de “consumo de vingança”. O excesso de poupança, historicamente alto, apoiará esse movimento nas economias desenvolvidas. Importante ressaltar que este excedente foi preservado graças aos generosos programas de auxílio.

A elasticidade do nosso modelo a nível-país mostra que o investimento corporativo na Itália e no Reino Unido tem maior sensibilidade ao aumento da demanda agregada. Além disso, após uma alta na capacidade ociosa percebida em 2020, especialmente em países que implementaram lockdowns rigorosos, observamos que essa lacuna se manteve de forma significativa no primeiro trimestre de 2021 (em comparação com a média de 2019). É o caso de Reino Unido (-10%) e França (-6,7%). Como resultado, projetamos uma rápida recuperação do investimento para esses dois países (+18,4% e +5,4%, respectivamente), com a utilização da capacidade voltando aos níveis de 2019 (Tabela 1). Em contrapartida, a normalização do excesso de capacidade terá um impacto moderado (devido à menor folga e menores elasticidades de investimento) na Alemanha (2,5%) e nos EUA (4%).

Quadro 1: Expectativa de recuperação do investimento devido à recuperação cíclica da demanda (preços correntes)

Fontes: diversas, Allianz Trade, Allianz Research

No entanto, um possível aperto das condições de oferta de empréstimo representa um risco para a recuperação do investimento em 2021. Nossa regressão a nível-país revela que, além da utilização da capacidade, as condições para tomar dinheiro emprestado também são determinantes para o crescimento do investimento - embora a relação seja mais fraca na Alemanha. Após o surto da Covid-19, houve melhora significativa em comparação com a média de longo prazo nos EUA (+34pts) e no Reino Unido (+4pts), embora tenha ficado substancialmente mais restritiva na Itália (-6pts). Ainda assim, no final de 2021, um possível aperto nas condições de oferta de empréstimo (devido à normalização da política monetária, pressões inflacionárias ou deterioração da carteira de empréstimos dos bancos) poderia ser um fator adverso para o novo ciclo de investimento.

Esperamos uma recuperação mais rápida nos investimentos em propriedade intelectual e tecnologia [ou ITC, do inglês Information and Computer Technology] em comparação com equipamentos industriais e P&D. Olhando para os setores, a experiência com as crises anteriores nos mostra que os investimentos em ICT e propriedade intelectual tendem a ser mais resilientes. Para ilustrar, entre Q22007 e Q22009, o investimento em ICT diminuiu moderadamente nos EUA (-2,6%) em comparação com a queda acentuada no investimento em transporte (-10,5%) e equipamento industrial (-3,4%).

Durante a pandemia, os serviços/produtos digitais desempenharam um papel fundamental para manter as economias funcionando, permitindo o trabalho remoto e a automação de processos. Tendo em mente a necessidade de uma transformação digital mais rápida, esperamos uma retomada contínua dos subcomponentes de investimento em software e equipamentos de TI em 2021 e 2022.

Além do investimento "defensivo" (ou seja, aumentar a capacidade produtiva para acompanhar a demanda), as empresas de tecnologia também podem se envolver em estratégias de investimento ofensivas para adquirir novas habilidades e recursos digitais a um custo mais baixo. Curiosamente, o desejo por uma transformação digital rápida e a busca por eficiência de produção já impulsionaram as fusões e aquisições no setor ITC em 2021 (Figura 2). Entretanto, em vista da alta alavancagem das empresas e da frágil situação financeira, o setor de transporte pode ver grande parte dos projetos de investimento adiados no curto prazo.

Figura 2: Ticket médio das negociações de Fusões e Aquisições por setor (US$ bilhões, movimentação da soma dos 4 trimestres)

Fontes: Bloomberg, Allianz Trade, Allianz Research