A medida que aumentam as expectativas de recuperação da demanda pós-pandemia, a elevação dos preços das commodities e dos insumos testará a capacidade das empresas europeias de cobrar mais dos compradores. O poder de precificação é fundamental para o reaquecimento da economia e para as companhias compensarem as baixas de 2020. No entanto, devido a um grande número de fatores (diferentes estruturas de mercado, intensidade competitiva, comportamento do consumidor, etc), nem todos os setores conseguirão permanecer à frente da curva.

Ao comparar a evolução dos preços ao consumidor vs produtor, calculamos um “proxy” [aproximação] para o poder de precificação. Os setores que viram os preços ao consumidor crescerem mais rapidamente do que os preços do produtor, podem ter algum poder de precificação, enquanto aqueles que vivenciaram a situação oposta, são vistos como sem poder de precificação.

Através da nossa análise, descobrimos que os setores: têxtil, eletrodomésticos, produtos de limpeza, telefonia e restaurantes, viram os preços dos insumos ultrapassarem os preços do varejo. Esses setores têm enfrentado uma competição acirrada em âmbito local (telefonia, restaurantes) e global (têxtil, eletrodomésticos, alguns produtos químicos). Enquanto eletrônicos, fármacos e aéreas estão entre os setores que mais detêm poder de precificação no longo prazo.

Tabela 1: Classificação proprietária de poder de precificação no longo prazo

Fontes: Eurostat, Allianz Trade, Allianz Research

Observando os dados detalhados do setor de alimentos, observamos que devemos levar em conta o fator heterogeneidade (ver Figura 1). Por exemplo, o segmento de óleos viu os preços dos insumos ultrapassarem os preços ao consumidor nos últimos 15 anos. Curiosamente, o segmento de laticínios e ovos conseguiu elevar os preços ao consumidor em 10 pp acima do crescimento dos preços da matéria prima para o mesmo período. Já os produtores de café, que se beneficiaram dos preços mais baixos dos insumos, tiveram que reduzir os preços ao consumidor para combater a concorrência global.

Figura 1: Evolução de longo prazo do IHPC vs PPI para segmentos do setor de alimentos na Zona do Euro

Nota: Devido à disponibilidade de dados, os períodos não são homogêneos entre os setores

Fontes: Eurostat, Allianz Trade, Allianz Research

CENÁRIO PARA AS EXPORTAÇÕES

Ao contrário da Zona do Euro, a Ásia e a América do Norte viveram períodos recentes de inflação e, o padrão atual de recuperação, parece apontar para um novo ciclo de aumento dos preços. Na teoria, as empresas europeias que exportam para fora da UE podem se beneficiar dessa alta. No entanto, ao olhar para os 19 setores analisados, apenas o setor farmacêutico apresenta uma relação significativa entre as exportações líquidas para fora da UE e o volume de negócios (ver Tabela 3).

Tabela 3: Exportações líquidas para fora da UE vs volume de negócios por setor

*devido à disponibilidade de dados, os números correspondem a setores mais amplos (por exemplo, Transporte para Transporte Aéreo, etc.)

Fonte: Eurostat, Allianz Trade, Allianz Research

A taxa de câmbio é uma fonte adicional de incerteza para os exportadores europeus. O potencial “mecanismo de compensação” por meio das exportações pode ser reforçado ou dizimado por flutuações nas taxas de câmbio. As empresas na Zona do Euro podem vender com o dólar elevado, mas se entre a venda e o recebimento o euro se valorizar, o impacto sobre o lucro será atenuado. Para ilustrar isto, vimos que em 11 dos últimos 20 anos, o euro apreciou enquanto a inflação era alta nos EUA (ver Figura 4). Entretanto, preços de venda mais altos e uma desvalorização da moeda do bloco representariam um impulso duplo de crescimento.

Figura 4: EUA - Zona do Euro: taxa de câmbio e diferencial de inflação

Fontes: Refinitiv, Allianz Trade, Allianz Research