A mudança climática é o desafio dominante do século 21, mas combatê-la exigirá mais do que apenas grandes investimentos: mudanças comportamentais individuais de longo prazo também serão essenciais. A última edição da nossa pesquisa “Allianz Pulse”, revela que apenas 17% dos entrevistados na Alemanha, França e Itália estão dispostos a pagar preços mais altos por bens produzidos de forma sustentável.

Existem três canais de mudança comportamental que podem acelerar a transformação verde no mundo:

  • Primeiro, o “canal moral”, pelo qual a percepção da insustentabilidade de velhos hábitos força as pessoas a mudarem seus estilos de vida;
  • Segundo, o “canal de substituição”, pelo qual as pessoas não necessariamente mudam seu comportamento de consumo, mas escolhem alternativas verdes (produtos amigáveis ​​ao clima);
  • Terceiro, o “canal de preço”, pelo qual as pessoas são “encorajadas” a reduzir sua demanda por produtos que prejudicam o clima através de impostos sobre o carbono.

Os resultados da nossa pesquisa mostram que, embora o “canal moral” pareça estar funcionando, tanto o “canal de substituição” quanto o “canal de preço” não estão. No geral, apenas 19% dos entrevistados disseram “Não” em resposta à pergunta: “Você está disposto a enfrentar pessoalmente as mudanças climáticas?” (Ver Figura 1).

A grande maioria, está bastante disposta a mudar seu comportamento para o bem do clima: as mudanças nos hábitos alimentares vêm em primeiro lugar, seguido de “vontade de aumentar a eficiência energética das suas próprias casas” e “reduzir o desejo de viajar”.

O fato de que as considerações climáticas provavelmente não são o único fator nas medidas mais mencionadas, não diminui a relevância das respostas. Mais surpreendente (e decepcionante) é o fato de que apenas 19% dos entrevistados consideram os investimentos sustentáveis ​​como uma medida para combater atividades que prejudicam o clima. Este baixo número é algo em desacordo com o tremendo interesse que este tópico está atraindo mundialmente.

Figura 1: Estou pronto para uma mudança comportamental

Fonte: Allianz Research

No entanto, quando questionados sobre a sua vontade em consumir produtos sustentáveis, o que implica em aceitar preços (significativamente) mais altos, apenas 17% dos entrevistados disseram que estão dispostos a pagar significativamente mais - ou seja, pelo menos 10% mais - por esses produtos do que por suas contrapartes (produtos não sustentáveis). 47% dos entrevistados disseram que não pagariam nem um centavo a mais e 36% apenas um pouco mais. Um ponto positivo, no entanto, é que a disposição de pagar é significativamente maior entre os participantes mais jovens, com 32% dos entrevistados entre 18 e 24 anos aceitando preços significativamente mais altos (em comparação com 10% dos entrevistados em idade de aposentadoria, ver Figura 2).

Figura 2: Não estou disposto a pagar preços mais altos, parte I

Quanto que você estaria disposto a pagar a mais por um produto sustentável? Respostas em %, média de oito categorias de produtos (carro, roupas, comida, casa, celular, eletricidade, vôo, turismo), por faixa etária

Fonte: Allianz Research

Embora as diferenças relacionadas à idade fossem esperadas, dada a maior sensibilidade climática da geração mais jovem, outro resultado da pesquisa é surpreendente: a espessura da carteira quase não tem influência sobre a disposição a pagar. Enquanto 84% dos entrevistados com uma receita líquida de menos de €1.000 por mês, não estão dispostos a pagar significativamente mais por produtos que não prejudicam o meio ambiente, no grupo com a maior receita líquida (acima de €5.000), a proporção foi apenas ligeiramente inferior a 81% (ver Figura 3). Essas respostas, portanto, parecem estar mais relacionadas a atitude do que situação financeira.

Figura 3: Não estou disposto a pagar preços mais altos, parte II

Quanto que você estaria disposto a pagar a mais por um produto sustentável? Respostas em %, média de oito categorias de produtos (carro, roupas, comida, casa, celular, eletricidade, vôo, turismo), por grupo de renda

Fonte: Allianz Research

A grande maioria dos entrevistados também se opõe ao imposto sobre o carbono nos preços dos produtos não sustentáveis. Consideráveis ​​40% dos entrevistados disseram que não aceitariam qualquer aumento de preço e outros 40% aceitariam apenas aumentos de até 10%. Em contraste com a disposição de pagar mais por produtos ecologicamente corretos, as diferenças entre as gerações não são tão pronunciadas neste ponto. Mais uma vez, os entrevistados mais jovens são os de mente mais aberta, mas a próxima faixa etária, de 25 a 34 anos, não difere tanto em sua atitude das contrapartes mais velhas (ver Figura 4). Diferenças um pouco maiores podem ser vistas entre os grupos de renda: os "que ganham mais" são um pouco mais abertos a um imposto sobre o carbono. No entanto, os oponentes mais veementes não se encontram no grupo de renda mais baixa, mas no grupo de renda média - provavelmente porque o grupo de renda mais baixa tende a conter muitos jovens.

Figura 4: Não me taxe com carbono! Parte I

Um imposto sobre o carbono visa tornar mais caros os produtos não sustentáveis, a fim de mudar os padrões de consumo. Na sua opinião, qual deveria ser a taxa de aumento nos impostos sobre produtos como gasolina ou carnes? Respostas em %, por faixa etária

Fonte: Allianz Research

Figura 5: Não me taxe com carbono! Parte II

Um imposto sobre o carbono visa tornar mais caros os produtos não sustentáveis, a fim de mudar os padrões de consumo. Na sua opinião, qual deveria ser a taxa de aumento nos impostos sobre produtos como gasolina ou carnes? Respostas em %, por grupos de renda

Fonte: Allianz Research

Os resultados indicam que o mundo precisa de um “Churchill do Clima” para fazer um discurso de “sangue, trabalho, lágrimas e suor” buscando abrir os olhos dos cidadãos para os desafios que estão por vir. Os políticos continuam dizendo que a transformação verde é uma grande oportunidade para todos. Então, por que não fazer "sacrifícios", por que não aceitar preços mais altos? A realidade é que há muito tempo ultrapassamos o ponto em que uma transformação gradual e suave da economia ainda teria sido possível. Agora, uma ação radical e rápida é necessária para manter o aumento da temperatura na casa dos 1,5 °C.

No longo prazo, a economia descarbonizada proporcionará tanta prosperidade material quanto a economia baseada em combustíveis fósseis de hoje; as condições de vida e as circunstâncias serão significativamente melhores. Quanto mais cedo estivermos dispostos a fazer isso acontecer, melhor.